A proposta que vos trago hoje é que ouçam esta história, "O Conto dos Contos," contada oralmente pela escritora Margarida Fonseca Santos e leiam depois a versão escrita.
- Conseguem ver as diferenças entre as duas tipologias textuais?
- Acham que é importante contarmos histórias? E criarmos histórias?
- Qual é a importância das histórias?
- Que espaço ocupa a ficção nas vossas vidas?
“Era uma vez um povo… Era um povo escorraçado pela guerra, que vagueava pelo mundo à procura de um local onde pudesse finalmente assentar, onde pudesse construir uma aldeia. Depois de muito andar, por montes e valas, planícies e desertos, esse povo chegou a um sítio extraordinário. Tinha água por perto, terrenos bons para cultivo, um clima aprazível, nenhum inimigo à vista. O chefe sorriu, feliz por poder dar ao seu povo ordem que começasse a construir uma aldeia.
Os tempos que se seguiram só podiam ser de trabalho árduo. Foram erguidas casas, lavradas e semeadas terras, nume esforço para recomeçar uma vida que tinha sido interrompida.
Quando tudo estava terminado, o chefe começou a observar as gentes desta aldeia. Alguma coisa não batia certo! Dispunham de tudo aquilo de que necessitavam: casa, água, alimentos, paz… Mas faltava qualquer coisa. Não precisou de pensar muito para chegar à conclusão de que aquele povo estava triste. Carregava uma tristeza profunda.
Reuniu-se o conselho dos anciãos. O chefe ouviu os relatos de todos, e a verdade era a mesma – aquele povo sofria de uma mágoa imensa. Ninguém sabia o que fazer. Festas? Bailes? Discursos…? A reunião terminou sem que se chegasse a uma solução.
O chefe ficou sozinho, esgotado pelo cansaço e, escusado será dizer, pela mesma tristeza que afundava todos os outros. Sentiu-se inútil. Conduzira-os até ao sítio ideal e nada podia fazer para recuperar a sua alegria. Foi então que percebeu que, ao fundo da sala, ficara o homem mais velho da aldeia. Olhava para ele com o ar sereno de quem sabe a verdade. O chefe não rodeou a questão.
- Diz-me o que devo fazer…
O velho sorriu.
- Conta-lhes histórias.
O chefe ficou perplexo. Histórias?! Para quê? O velho adivinhou-lhe os pensamentos.
- Para que recuperem uma identidade, uma memória comum, se quiseres, para que a construam juntos, para que recuperem os afectos através de invenções, recordações, sensações…
O chefe estava demasiado cansado para rebater. Nada do que ouvia lhe fazia sentido, mas ele não sabia que sofria do mesmo mal que todos os outros – perdera uma boa parte da esperança. No entanto, no seu íntimo, sentiu que devia confiar, e foi por isso que convocou para a noite seguinte todo o seu povo para uma reunião à volta da fogueira.
Quando viu que todos haviam comparecido, arrepiou-se. Suspirou e contou uma história. Perante a perplexidade de todos, contou a única história que conseguiu recordar. O povo, calado, escutou. Ninguém comentou, mas também ninguém abandonou o local com pressas. E o velho, sentado a um canto, sorriu.
Na noite seguinte, à hora marcada, já várias pessoas estavam sentadas à volta da fogueira, e o chefe, com algum alento ganho na noite anterior, contou duas histórias – uma de feitos antigos, e outra, inventada ao sabor das chamas do lume.
Na terceira noite já todos haviam chegado quando o chefe se aproximou da fogueira. Contou, com algum receio, mais uma história inventada, e quando acabou, olhou para o velho. Estava sem forças para contar mais! E foi nesse momento que um homem ergueu a voz e disse:
- Agora conto eu…
E ali nasceu uma narrativa onde se reconheciam farrapos da história daquele povo e muita fantasia. No entanto, quando se calou, outro homem relatou um breve episódio do passado. Muitos se riram pela forma engraçada como ele lhes apresentou aquela pequena história, e uma mulher falou:
- Lembro-me de ouvir a minha mãe dizer que o mais importante é a forma como contamos… Pode ser uma história simples, mas se a contarmos com entusiasmo, com emoção, ela transforma-se numa grande história!
E a mulher contou mais uma.
Quando terminou, o silêncio que se espalhou a seguir foi uma espécie de aconchego para todos. Despediram-se uns dos outros com um sorriso nos olhos.
Nos serões que se seguiram, ninguém precisou de ser avisado para comparecer junto à fogueira. Já esquecidos do esforço do chefe nos primeiros dias, os contadores foram nascendo, inventando, partilhando e, aos poucos, a alegria voltou a habitar junto daquele povo.
Numa tarde, o chefe encontrou o velho junto ao rio. Este sorria e brincava com a água. Sentou-se ao seu lado e perguntou:
- Como é que sabias que ia resultar?
- Como é que podia não resultar? – devolveu-lhe o velho. – Devias escrever estas histórias. São a memória do teu povo.
- Memória? Mas não são verdadeiras… Quer dizer… São bocados do passado, invenções, brincadeiras…
- Diz-me: conheces alguma história que seja inteiramente verdadeira?...
A esta pergunta o chefe não respondeu. Mas o que é certo é que escreveu e viu escrever outros no seu lugar. E viu renascer a esperança e a alegria no seu povo.”
In Histórias para Contar Consigo. Aprender a viver através dos contos. Margarida Fonseca Santos - Rita Vilela. Oficina do Livro, 2011 (3ª edição)
Este é o conto, não o anterior.Eu dei para eliminar, mas não consigo.
ResponderEliminarCONTO
Naqueles dias de primavera, a Maria costumava sair de casa para apreciar a natureza e esquecer a crise sentimental que a tinha levado ao isolamento. Os dias soalheiros eram especialmente do seu agrado. Ela caminhou até a praia e respirou fundo para se encher do cheiro do mar.
Naquele dia tinha saído, como sempre, mas as coisas deram errado desde o início. Começou a ficar nublado e, quando ela percebeu, estava encharcada pela chuva. Mais tarde, entrou na casa e reparou em que algo estranho acontecia. Algumas coisas não estavam em seu lugar, na ordem em que ela as havia deixado. O cão estava nervoso e correndo de um lado para outro, ao mesmo tempo em que latia.
Ela pensou que alguém havia entrado em sua ausência e procurou em cada um dos quartos. Subiu ao primeiro andar, mas não viu nada. Ao voltar para a sala, encontrou um envelope e, quando o abriu, viu um grande: PARABÉNS!
De repente,as suas irmãs e os seus amigos surgiram do nada. Ela tinha esquecido que era o seu aniversário. Estava passando por um momento mau e, assim, as suas pessoas queridas demonstraram o amor e a solidariedade. Além disso, sentiram saudades dela e queriam partilhar esse dia especial que a faria sair dos seus devaneios.
Ela sintiou-se feliz e pensou que o verão estava próximo e tudo poderia mudar.
O conto da Margarida Fonseca é uma beleza. Que importante é a palavra e a memória para um povo.
ResponderEliminarE este é o meu.
ResponderEliminarEra uma vez uma virose malévola que começou-se espalhar com muita facilidade, sem respetar as fronteiras e, de repente, o mundo todo se paralisou.
Os hospitais estavam quase lotados e o governo teve que fazer uma importante escolha, a saúde ou a economia, e obviamente escolheu a primeira. As pessoas foram obrigadas a ficarem em casa e, além disso, deviam ter um comportamento responsável, especialmente com os idosos, a população mais vulnerável.
Embora foi uma situação muito difícil, sobretudo para os rapazes e as raparigas, pois eles não podiam sair a brincar nas ruas, parece que o planeta precisava deste descanso: a poluição desceu e as praias ficaram mais lindas, até a natureza parecia mais viva, ouviam-se cantar os passarinhos o dia todo e os pirilampos iluminavam as noites.
Graças a Deus, o sacrifício valeu a pena e, aos poucos, as autoridades foram abrindo mão. As crianças foram as primeiras em saírem.
Aconteceu que, mesmo tendo enormes saudades de coisas que anteriormente não eram valorizadas: um passeio pelo parque, fazer desporte, ir a aulas de português, assistir um filme no cinema, beber uma imperial... Houve uma coisa que todos aproveitaram ao máximo: passar muito tempo com a família, algo que a correria da vida diária normalmente não permitia.
Há muitas diferenças entre os dois textos,verbal e escrito, mas és na forma porque mudam palavras ou adicionam-se algumas ideias, porém a mensagem é o mesmo: o facto de contar vivências faz a história dum povo, e sem história não há vida, só tristeza.
ResponderEliminarSim, penso que é importante contarmos histórias, porque nos criam nosso passado e nos dão a esperança para nosso futuro.
Gosto muito de ler ficcão, mas tenho de dizer que não leio o suficiente, gostaria de ter mais tempo e também mais vontade.
Vou contar esta história como homenagem a todas as pessoas que viveram a pós-guerra na Espanha. É uma história verdadeira É a história de uma avó coragem, que teve que seguir em frente porque a vida assim o pôs. Nasceu em 1 de janeiro de 1901, viveu a guerra civil e conheci sua história por relação familiar. Carmen era natural de Badajoz e vivia no bairro de San Roque. Durante a guerra civil, era casada e tinha três filhos pequenos, um filho e duas filhas. Seu marido era carabineiro destinado na fronteira de Gaia. Em agosto (o verão) de 1936, quando as tropas franquistas entraram em Badajoz, foi preso porque estava no lugar que as circunstâncias lhe puseram, não por ideologia e como consequência disso na manhã seguinte foi fuzilado junto a outros inocentes.
ResponderEliminarCarmen ficou viúva com três filhos e na rua porque o posto de Bartolomeu incluía a moradia desde então lutou para atender a seus filhos, trabalhou onde podia, no campo, servindo a senhoras que tinham tido melhor sorte que ela. Também era uma mulher estável e muito responsável. Quando era mais velho, partilhava tudo, não sabia ler nem escrever, e até à sua morte com 96 anos assinou com o dedo, essa impressão azul ainda perdura em alguns documentos que a família conserva. Teve uma saúde de ferro. Seus filhos saíram adiante e ela nunca se queixou nem falou do sucedido, aprendeu a calar-se
Bom dia,eu tambem gostava de contar a historia de minha avò que não era minha avò porque no erá mãe dos meus pais mas, sempre a tratè de avò, morava connossco e era a mulher mais trabalhadora lutadora e valiente do mundo.Chamavase Maria e tinha dois filhos viveu a posguerra sozinha porque o seu marido estaba escondido porque queriam mata-lo muitas noites tinha caminhado ate Cheles para comprar café e mais um producto que com sorte vendia de manha na sua vila e estoy a dicer com sorte porque a maior das veces a policia roubaba lhe o que tinha se a vi-a , sempre lutou pela sua familia e passar as horas a falar e aprender dela era uma de las coisas que eu adorava fazer, tinha morrido aos 90 anos e tenho muita saudade dela.
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ResponderEliminarBom dia colegas! Mesmo agora acabei de ouvir o conto da Margarida e fiquei assim a pensar um bocado. Acho que tudo o que acontece na nossa mente é real, mais fazemo-lo ainda mais verdadeiro se é dito. Algo assim acontece com as histórias, não é? Se calhar, muitas delas surgiram da própria experiência do escritor e é uma maneira de contar alguma coisa pessoal (o não) duma forma literária. É curioso e bonito.
ResponderEliminarNa minha vida é importante ouvir, ler e partilhar histórias, são, como diz a Margarida, a base dum povo, duma sociedade.
Beijinhos e bom dia para todos!!
no consigo publicar aqui
ResponderEliminarÀs vezes, quando a tristeza entra em nossas vidas, precisamos encontrar uma maneira de lembrar histórias passadas ou inventadas por nós ou nossos avós... que podem nos ajudar a ser mais felizes e com uma nova esperança de ver o presente e um futuro melhor. Precisamos conseguir força para continuar e começar de novo a lutar por a nossa vida, que é a única que temos.
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